quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Não há distância que separe


Somos de uma geração em que uma lousa, um professor e muita disciplina eram suficientes para as demandas básicas de ensino de então. Mas nós, assim como quaisquer pessoas que não tenham estagnado no tempo, sabemos que a didática avançou a passos largos e a pedagogia tem, hoje, um ferramental que a própria tecnologia contemporânea ajudou a ensejar. Não fazemos essa afirmação só pelo que conseguimos acompanhar (mesmo diante de insuperável distância) do processo de crescimento escolar dos quatro netos, mas, também, pelo que temos vivenciado profissionalmente. E acreditamos que se deve abrir espaço e chamar pelo nome um novo horizonte na relação bilateral do aprender e ensinar: Educação a Distância ou, simplesmente, EAD. A EAD não tem (nem deve ter) a pretensão de substituir o ensino presencial. É, isto sim, uma nova e ágil alternativa, assim como os sites de notícias, se comparados aos jornais impressos. Mas não é uma opção qualquer. É a opção, posto tratar-se de metodologia comprovadamente eficiente, em especial em um país como o nosso. Por que dizemos isso? Várias razões: entre as quais as distâncias continentais brasileiras, o incontido progredir da tecnologia e a aspiração (e necessidade) crescente de qualificar-se, particularmente para os que em tempos de plena juventude não tiveram oportunidade. O Brasil é um gigante geográfico, com uma população relativamente bem distribuída (não com índices homogêneos). Diferentemente de países como o Canadá ou a Rússia (também enormes), não temos regiões, por inóspitas, praticamente desabitadas. E lá são grandes territórios vazios. Não se pode negar, no entanto, que temos áreas, sem a provisão necessária de infra-estrutura educacional. A lógica tradicional pregava que, se o estudante tivesse um lugar próximo disponível para o ensino presencial, ele tenderia a preferir tal metodologia. Como, na prática, nem sempre essa disponibilidade acontecia, surgiu a Educação a Distância. E, com o tempo, liberando o estudante do horário fixo e rigoroso da sala de aula (eu, aluno, faço meu horário, de acordo com as minhas circunstâncias) e dispensando-o da exigência de ir ao local do estudo (minha sala de aula pode ser a minha casa), a opção da EAD mostra que tal alteração, pragmática e inovadora, começa a disputar, no mundo do alunado, com chance de êxito, uma concreta preferência. Um outro pilar de sustentação da EAD tem estacas e fundações fortes no terreno da tecnologia. No ensino tradicional, o aluno se subordina à dinâmica do professor. Não há possibilidade de rever uma aula perdida. O tempo é aquele designado pela instituição de ensino (e só ele). Não existem recursos audiovisuais, além dos usualmente pouco disponíveis e possíveis na sala de aula. E se, no tempo da aula, a compreensão do conteúdo não for plena, não se pode voltar o DVD e reassistir o não entendido. É a diferença entre ver, no campo de futebol, o lance rápido e ficar com dúvidas insanáveis do impedimento não marcado ou acompanhar, na poltrona de casa, a transmissão colorida, com direito a replay elucidativo e esclarecedor. Agora, imagine o mundo cibernético em que você ? e, sobretudo, o seu filho e/ou seu neto ? está envolvido com todas as animações do vídeo-game, dos chips e dos efeitos especiais e reflita sobre qual será o grau de interesse que particularmente um jovem poderá ter em uma aula, ainda e exclusivamente, calcada numa barra de giz e no quadro-negro? A EAD vai ao aluno, enquanto, no presencial, ele ? estudante ? é quem deve ir buscar o aprendizado. Às vezes, longe. E aí entram e se multiplicam os problemas de logística individual: as más estradas, para o rurícola; o trânsito engarrafado e enervante, para o citadino. E tudo isso, e muito mais, significa custo. Em juridiquês, lucro cessante e até dano emergente. O ?plus? dos gastos educacionais (por exemplo, as passagens para ir-e-vir), as horas de trabalho não produzido, substituídas pelo tempo do mero deslocamento etc. pesam no bolso do consumidor-cliente-estudante. Como a média nacional, conforme o MEC, da mensalidade de um curso de graduação (por exemplo, Administração, Pedagogia, Letras, Direito etc.) presencial é de seiscentos reais e a do mesmo curso por metodologia EAD, é de duzentos reais, poder-se-ia até dizer que está, no EAD, a ganhar-se mais e a gastar-se menos. E a preferência pela EAD deve crescer, já que só 11% da expressiva população da chamada classe C, no Brasil, freqüenta faculdades, excluído um majoritário contingente pelo seu limitado poder aquisitivo, diminuto para fazer frente às mensalidades dos cursos presenciais. A EAD tende a cumprir, por isso, neste país enorme, um papel relevante, de socialização abrangente e relativamente célere do saber, popularizando a educação que, em certos níveis, para muitos, ainda se mostra inacessível. Há mais de 5 milhões de brasileiros, agora, esperando por essa chance, cujo chegar se faz, em parte presente, e, em parte, iminente. Finalmente, destaque-se um outro fundamento da EAD: a autodisciplina. Atualmente, cerca de dois milhões e quinhentos mil brasileiros já vivenciaram a metodologia da EAD. E eles são cada vez mais jovens, esperançosos e interessados. Os alunos a distância devem ter um grau consistente de disciplina pessoal para poder bem aproveitar o que se lhes propicia, já que são os regentes operacionais de seu aprendizado. E números estatísticos mostram que se está alcançando esse nível de auto comprometimento. Basta analisar os últimos números do Enade e do Ideb. De 1994 em diante, examinando-se os resultados do Exame Nacional de Desempenho do Estudante, segundo informa o MEC, considerando 13 áreas do conhecimento, em nove delas o melhor desempenho foi de alunos da EAD, o que atesta a sua qualidade, no mínimo similar, ou equivalente, a do presencial. Em resumo, temos tamanho, tecnologia, pessoas comprometidas, por que aspirantes à melhoria, o que nos leva a crer que a EAD crescerá a cada dia em nosso país. E não há distância que nos separe desse crescimento.


Fonte - Carlos Alberto ChiarelliEx-ministro da Educação