quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Educação, eleições e a fogueira das vaidades


Em 2009, 60% dos municípios brasileiros serão comandados por novas equipes gestoras, a partir da eleição de novos prefeitos. Na área da Educação, estima-se que a maioria dos atuais dirigentes municipais serão substituídos. Considerando a dimensão dessas mudanças e levando em conta as características de nossa república, que desde sempre padece da grave enfermidade da descontinuidade administrativa, é possível imaginar o risco do surgimento de milhares de focos de incêndio a ameaçarem a já precária educação básica pública em todas as regiões do País.
Descontinuidade é um problema particularmente grave no setor educacional, onde os programas demandam prazos de maturação que muitas vezes ultrapassam os períodos de gestão governamental. Infelizmente, é muito comum que governantes recém chegados ao poder desfaçam, sem qualquer cerimônia, programas e projetos que vinham sendo executados na administração anterior, apenas porque são marcados pelo defeito genético de terem sido criados pelos antecessores. Vaidosos e encorajados pelas promessas de campanha de realizar mudanças, muitos dos que chegam não hesitam em cancelar, anular, demitir, fechar e destruir o que encontram pela frente, ávidos por logo deixarem registrada a sua própria “impressão digital” na história da cidade. Esquecem, contudo, que políticas públicas são custeadas com dinheiro público e, já por isso, merecem respeito e consideração. Claro: muitas coisas merecem mudar, mas nunca sem a necessária avaliação e sempre à luz do interesse público.
Essa situação é mais preocupante na educação, porque na maioria das escolas mantidas pelos municípios brasileiros, os diretores, coordenadores e secretários ocupam cargos de confiança e podem ser livremente nomeados e exonerados pelos prefeitos. Além disso, raríssimas são as cidades que dispõem de um Plano Municipal de educação, elaborado com ampla participação da sociedade, estabelecido por lei e capaz de assegurar alguma estabilidade ao processo de mudança governamental. Salvo uma minoria, tampouco as unidades escolares contam com planos plurianuais de gestão e projetos pedagógicos que sejam concebidos, conhecidos e defendidos pelos educadores, seus alunos e suas famílias. Portanto, na área da educação, os períodos de transição são perigosos.
Mas se a Educação sofre riscos decorrentes das alternâncias políticas e administrativas, hoje em dia são muito melhores as condições para evitar que ela seja imolada na fogueira das vaidades e dos interesses subalternos.
Desde 2006, o Brasil dispõe de uma nova legislação sobre o financiamento da educação. Com ela foi criado o FUNDEB, fundo de natureza contábil por onde transita a maior parte dos recursos vinculados ao ensino público dos Estados e dos Municípios brasileiros. Em 2009, essa nova sistemática, concebida para ser implantada gradualmente, entra em plena operação e, assim, passa a oferecer uma previsibilidade muito maior para o correto planejamento e execução das políticas educacionais. E mais: a legislação que criou o FUNDEB contém vários elementos de “responsabilidade educacional”, estabelecendo regras mais rígidas para a aplicação dos recursos bem como para o seu acompanhamento e controle social. Em outras palavras: essa nova lei diminui o grau de liberdade dos administradores de fundos educacionais e aumenta o grau de responsabilidade para a sua correta aplicação.
Outro fator de defesa contra aventureirismos decorre do Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado há mais de um ano pelo Governo Federal. Dentro dele, está o PAR - Plano de Ações Articuladas, uma espécie de contrato de gestão em que cada município e cada estado compartilham diagnósticos, objetivos, metas educacionais, prazos e recursos com o Ministério da Educação. Todos os estados e a grande maioria dos municípios já assinaram termos de compromisso com as autoridades federais. Interessante notar que a ampla adesão ao PAR produziu algo além da expectativa de receber mais recursos financeiros e apoio técnico: com ele, o país inteiro foi induzido a realizar um inédito esforço de racionalização e entendimento da Educação como política que deve ser claramente planejada, sistematicamente avaliada e cuja implementação pressupõe compromissos com resultados tangíveis e verificáveis. Trata-se de um notável avanço, não apenas porque agora todos dispõem de uma clara orientação para o trabalho, mas também porque se criou um mecanismo capaz de inibir descontinuidades dolosas e iniciativas irresponsáveis por parte dos detentores do poder público.
Mais um aspecto que ajuda a encarar com certo otimismo as mudanças que se avizinham com os resultados das eleições municipais, refere-se à emergência da qualidade como valor intrínseco à ação educativa. Há uma crescente consciência por parte da população de que não basta apenas ter acesso à escola: é preciso que ela proporcione uma educação de qualidade, que prepare para o trabalho e para a vida. Contribui para essa percepção a ampliação e consolidação de sistemas avaliativos como o ENEM, a Prova Brasil e o SAEB, bem como a produção de indicadores sobre a qualidade educacional, como o IDEB. O tema qualidade em educação como direito de todos e dever do Estado vem se insinuando com tal força que, no último processo eleitoral, foi objeto de uma inédita campanha nacional feita pelos principais meios de comunicação do Brasil e com o aval do Tribunal Superior Eleitoral. Nessa campanha, comunicadores famosos foram escalados para fazer alertas do tipo: “se o seu candidato não tem proposta para a educação de qualidade, mude de candidato”. Obviamente, tudo isso contribui para que a Educação seja cada vez mais encarada como política de Estado e não apenas como uma política de Governo.
Claro que apenas defender não basta: é urgente avançar e trabalhar duro para arrancar o Brasil e os brasileiros de sua histórica pobreza educacional. Nesse sentido, há uma grande agenda de prioridades a enfrentar, valorizando os educadores e sua carreira, melhorando as condições de trabalho deles e de seus alunos em todas as etapas e modalidades da educação básica. Isso é tarefa para verdadeiros homens públicos e, por isso, não há lugar para arroubos de vaidade, leniência e visão curta.

* Texto a ser publicado na edição número 20 da Revista Sociologia

Fonte : http://www.cesarcallegari.com.br / Cesar Callegari

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pense no futuro porque crises são passageiras


A crise financeira vem de longa data. O problema começou nos Estados Unidos em 1998, com o boom no setor imobiliário e grandes empréstimos sem a comprovação de que poderiam ser quitados. Empresas de todo o mundo estão preocupadas, ou até mesmo temerosas, com o rumo que a situação econômica tomará e quando a crise se findará. Apenas nos EUA, mais de dez bancos foram fechados em 2008 e cerca de 90 estão com problemas, sem contar com a falência de empresas do setor imobiliário, momento em que a crise “estourou”. Até aqui, nada de novo.O que pode significar a crise para o colaborador, o funcionário que levanta diariamente para o trabalho sem saber se o trabalho estará lá, quando ele chegar. Na realidade a pergunta que nos aflige é como preservar o emprego em situações de crise? Será que a crise chegará com tanta intensidade ao Brasil que as empresas terão que demitir seus funcionários? Alguns analistas acreditam que os cortes são um caminho natural em tempos de crise. Outros analistas colocam que entre os cortes já estaria implícito o turn over sazonal do mercado. Sabemos que, de fato, em outros momentos críticos da economia mundial, houve demissões. Portanto, as demissões são um fato.O que poucos ainda analisaram são as perspectivas de superação da crise e de novas oportunidades. Estão de olho em 2009 quando talvez fosse melhor focar a lente em 2010, 2011. São nos momentos de crise que empresas e executivos devem se destacar em relação aos outros, seja pelos serviços oferecidos ou pelas decisões tomadas. Claro que todos têm que se preparar e se prevenir dos maiores danos, mesmo na hipótese de sermos pouco afetados. Afinal, em um sistema econômico globalizado todos estão sujeitos às intempéries financeiras.As oportunidades que o mercado em crise oferece são mais escassas, mas ainda existem. Empreender em momentos de crise é arriscado, mas se o risco for calculado, pode se conseguir uma melhor perspectiva de negócios. A crise exige maior criatividade, maior capacidade de análise, maior atenção e precaução.Para empreendedores, empresas e funcionários o conhecimento se torna muito mais importante. Para obter conhecimento não há outra forma: investir em educação. Educação continuada é uma opção que pode garantir sua perenidade no mercado de trabalho no futuro próximo e, além disso, garantir certa estabilidade em tempos de crise. A ordem aqui, futuro estável e estabilidade na crise, é importante. Pense no futuro porque crises são passageiras! Instituições de ensino superior oferecem cursos que podem ajudar a se tornar um líder ou a gerir um negócio próprio, até mesmo em tempos de crise. A Tuck School of Business, uma das melhores instituições de ensino dos Estados Unidos, país onde a crise nasceu e virou uma locomotiva sem freio, informou recentemente, em meio à turbulência econômica, que a expectativa é que a procura por cursos de especialização aumente no próximo ano. Por que pensar diferente?Como sabemos, são nos piores momentos que temos que compatibilizar agressividade com moderação. Agressividade na qualificação profissional e moderação na análise da crise. Certo é que profissional estagnado não é atrativo para o mercado de trabalho. Com crise ou sem crise. O momento é de repensar a carreira e, talvez, tomar novos rumos. Investir em educação é uma opção segura em qualquer tempo.
Fonte:Jornal DEZ em Educação
Olavo Henrique Furtado
Coordenador dos Cursos de Pós-Graduação e MBAs da Trevisan Escolas de Negócios

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Inove ou evapore!


Inove ou evapore!
O mercado de trabalho e as empresas sofrem profundas transformações a espaços de tempo cada vez menores. E isso exige de todos um amplo espectro de flexibilidade e adaptabilidade às novas regras. Ou seja, o mundo moderno apresenta, a cada dia, novos problemas e oportunidades que exigem novas maneiras de pensar. Além disso, o conhecimento fica obsoleto muito rapidamente. O que aprendemos hoje provavelmente não servirá muito daqui a cinco anos.Essa situação é o resultado das inovações em todos os setores: ciências, marketing, produtos, medicina, engenharia, aviação, propaganda, etc. Mas e a educação? Será que as escolas estão preparando os profissionais de amanhã para gerenciarem o obsoletismo do conhecimento que ensinam hoje? Como preparar os estudantes para um mundo de transformações cada vez mais rápidas? As matérias atendem às demandas do futuro? As metodologias atendem às expectativas dos alunos? Os jovens de hoje são “multimídia”. Estudam e fazem seus trabalhos escolares na frente de um computador, ouvindo um CD, com a televisão ligada e falando ao telefone. Tudo ao mesmo tempo.Essas mudanças no mundo exigem inovações por parte das escolas. Recentemente, realizei uma palestra em um evento de educação. À saída, fui abordado por diversas pessoas, entre elas, um professor. Ao abrir sua pasta, o educador mostrou-me seu planejamento de aula. Observei que as páginas estavam amareladas. Algumas escritas à mão e outras datilografadas. Então indaguei:— Há quanto tempo o senhor dá essas aulas? — Sempre usei este formato e ele tem funcionado bem, respondeu. Esse fato deve provocar uma reflexão nas escolas que continuam fazendo tudo da mesma maneira como sempre foi feito porque funciona. Talvez ainda não perceberam que o grande risco é esperar perder para começar a mexer no time que está ganhando. Como em qualquer empresa ou profissão, as escolas também precisam estimular a criatividade de seus professores, diretores e pessoal administrativo, com o objetivo de gerar inovações que tragam benefícios para todos. A escola precisa estar alinhada com o mundo atual e com a rapidez das mudanças. A faísca da inovação é o questionamento. Então, pergunto:
Por que os currículos não são feitos para desenvolver a imaginação dos alunos ao invés de apenas transmitir informações?
Por que as escolas dedicam tanto tempo para ensinar o passado?
Por que não dedicam um tempo para analisar tendências e futuro? É no futuro que os estudantes colocarão em prática os conhecimentos adquiridos na escola. Muitas vezes já defasados. Esses são apenas três questionamentos. Podemos ter centenas deles. A partir daí, utilizando as técnicas de geração de idéias, surgirão novas formas para melhorar o produto educacional, melhores práticas didáticas e melhores resultados, maior motivação por parte dos alunos e professores, além de uma infinidade de outras vantagens para todos os envolvidos. Nos próximos meses, abordaremos mais a fundo todas essas idéias. Ou você inova, ou evapora!


Fonte:Antonio Carlos Teixeira da Silva é conferencista sobre criatividade e inovação e ministra workshops. Autor do livro Inov-Ação: Como Criar Idéias que Geram Resultados. E-mail: pense@pensediferente.com.brVisite o site: www.pensediferente.com.brRevista Profissão Mestre